Na matéria desta semana, continuaremos a falar sobre o TDAH.
Logo no início, quando pensei em falar de tal assunto, senti a necessidade de saber como seria o dia a dia de uma pessoa diagnosticada com o transtorno. As dúvidas principais eram, como lidar? como ajudar? O que melhora e o que piora o cotidiano dessas pessoas?
Depois de muito pesquisar, encontrei uma comunidade em uma rede social, na qual conheci pessoas que passaram por dificuldades em algum momento de sua vida, devido a não saber como lidar com ‘o jeito diferente de ser’, e para piorar, muitas pessoas que não procuram ajuda medica, recorrem para auto medicação, após descobri alguns fármacos utilizados, como por exemplo a Ritalina, um medicamento que também é utilizado no tratamento de outras patologias, como TOC, Depressão. O uso da Ritalina cresceu tanto, e de forma tão indiscriminada, que a estudante Mayara Gonçalves, 19 anos, estudante do curso técnico de farmácia, resolveu falar no seu trabalho de conclusão de curso, sobre o assunto, “Porque o uso da Ritalina e de outros fármacos de tarja preta cresceu tanto nos últimos anos”.
“O que causa os sintomas é a disfunção química cerebral de dopamina, serotonina e noradrenalina que funcionam no córtex pré frontal responsável pela noção de tempo, comportamentos, planejamento de futuro, organização. Os sintomas são: desatenção, hiperatividade e impulsividade. Os sintomas dão início na infância e podem haver vários tipos: mais impulsivo e hiperativo do que desatento ou mais desatento do que impulsivo e hiperativo. Acomete mais meninos, e nas meninas o sintoma mais forte é a desatenção. Com o passar do tempo os neurônios amadurecem, criam uma capa de milienina que facilita a condução do impulso nervoso, aperfeiçoando as funções do cérebro e amenizando os sintomas do TDAH. Bom tratamento é aquele que combina medicação que mais se adapta ao organismo da pessoa e uma terapia eficaz.”(...)
(...)”Os transtornos comportamentais e psicológicos estão por todas as partes, e são globalmente comuns em crianças, como o TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade). Muitas vezes não são diagnosticados pois o portador não recorre a um especialista. Todos os que são diagnosticados com esse transtorno necessitam de acompanhamento psicológico para se readaptarem em seu meio social. Ao invés das pessoas buscarem um tratamento com profissional, passam a fazer uso de medicação sem prescrição medica e consequentemente podem utilizar doses erradas, causando riscos a sua saúde. Também em alguns casos os responsáveis pela administração do medicamento em crianças com TDAH fazem abuso da medicação na dose, causando intoxicação, sendo esses os motivos para essa pesquisa, nosso objetivo é conscientizar as pessoas para não se automedicarem e saber que podem correr risco, ao abusar das doses em crianças ou adultos.” (...) “A falta de informação faz com que as pessoas façam automedicação e acabam usando demais algo que não precisam. Precisam saber o mal que isso faz e tomar consciência de seus atos.
Os pais também devem saber o que seus filhos estão tomando, saber os riscos e malefícios que a droga trás. Conscientizar as pessoas para que elas possam ser mais responsáveis e parar de se deixar levar pelas propagandas.
O uso excessivo de metilfenidato causa dependência química, causando insônia, taquicardia, dores abdominais e hiperatividade trazendo muitos males.” (Gonçalves, Mayara 2014).
E ao final da sua pesquisa, conclui-se que “Apesar do controle da ANVISA, muitos fazem uso de medicamentos controlados sem prescrição, maioria das pessoas não conhecem os riscos da auto-medicação, estão interessadas apenas da parte boa do marketing do produto, feita principalmente boca a boca.
Percebemos que muitas pessoas não têm conhecimento sobre assuntos importantes como uso indiscriminado de medicamentos que agem no sistema nervoso central, principalmente quando o usuário é uma criança e há outras formas de fazer um tratamento como terapias, que trazem menos reações adversas e não há como abusar de dosagens.” (Gonçalves, Mayara 2014).
No entanto já sabemos que, na prática, as coisas não são iguais a teoria, por isso conversei com o estudante Thiago Alencar, 20 anos, de Goiania, que aceitou nos contar como era sua vida antes de descobrir que tinha o TDAH, como foi o diagnóstico e como está sendo seu tratamento.
“Descobri o TDAH quando fui atrás de achar o que tinha de errado comigo, estava no cursinho a 2 anos e a cada ano conseguia assistir menos aulas, saia do cursinho antes (nunca havia concluído mais de 3 meses) não conseguia mais estudar, nem pegar nos livros, listas, nos simulados tirava notas horríveis. Apesar de eu saber as matérias, só conseguia fazer metade do simulado porque minha cabeça não conseguia aguentar "mais horas de provas". Também sempre fui taxado e cobrado porque tinha QI meio alto, eu tinha feito os testes com profissionais quando criança, mas por mim mesmo sabia que tinha a capacidade mas não conseguia exercer nem um terço do que podia. Mesmo com tudo isso eu queria estudar, assistir aula e não conseguia, ai comecei a procurar o que estava de errado comigo colocando tudo que me atrapalhava e me deixava ruim, acabei achando sobre o tal TDAH li muito sobre ele e não tive dúvidas, eu tinha isso. Fui ao médico, ele pediu exames, testes, falei tudo e enfim recebi o diagnostico que era mesmo TDA tipo misto. Também descobri que eu tinha recebido diagnóstico de dislexo quando criança e que foi confirmado. Acho que eu esqueci ou não me falaram da dislexia quando era menor (acho mais fácil eu ter esquecido kk lembro de pouca coisa quando era criança), foi um baita alívio saber que tudo aquilo não era culpa minha, me tirou um baita peso das costas.
E ao saber do TDAH fiquei sabendo que várias coisas minhas que me atrapalhavam eram dele, como meu imenso problema com a memória, distraído e esquecido. Isso era estopim direto de briga aqui em casa kk (ou seja eu e minha mãe, somos só nós dois). Eu também tinha um monstro gigante chamado procrastinação, era tão chata e forte q não fazia o que devia e nem o que eu gostava e queria. Pensava em 3 coisas o tempo todo e as vezes ainda com música de fundo kkk ah, e claro morria de sono de dia e sem nem um sono a noite.
Quando comecei com os remédios, primeiro a Ritalina depois o Venvanse. No começo os efeitos colaterais, a Ritalina me deixava muito ansioso, o Venvanse sem fome nem sono kkk mas essas coisas passam. Os remédios libertaram da bolha escura que ficava dentro de um nevoeiro, em fim pude ser eu de verdade, ser quem sou. Não tenho palavras para falar como o Venvanse me fazia bem, minha memória melhorou imensamente, deixei de ser distraído (claro ainda era um pouco kkk mas fazer o que kkk) todo o turbilhão emocional e de pensamento foi arrumado e estabilizado, ele equilibrou Tudo!
Claro que não fiquei perfeito, ainda possuo muitas dificuldades, do próprio TDAH como da dislexia - como conversar com alguém que conheci a pouco, quando não me distraio do que ela tá falando eu não entendo o que ela fala kkk e fico no ‘ham ham ham’- mas posso ser eu mesmo, ter consciência do que faço, impor minha vontade e dominar a impulsividade que já me fez fazer tantas coisas que não queria. Agora eu posso tentar fazer as coisas, sofrer, ter dificuldades, mas eu tentei!! Antes nem teria começado ou nem terminado! hoje eu vivo a minha vida
Infelizmente, tenho pressão alta, e os estimulantes não dão muito certo com hipertensos, de tempo em tempo estava tendo que aumentar os meus remédios da pressão. Isso levou a deixar o Venvanse de lado e começar com um outro, Wellbutrin, que interfere bem menos nessa área cardiológica, ainda estou em faze de adaptação mas pode ter certeza se não fosse isso, nunca largaria ao Venvanse. Simplesmente o tratamento/remédios trouxeram a felicidade de voltar para minha vida.”
Lembrando que, nenhum medicamento deve ser tomado sem orientação medica.
Gostaria de agradecer a participação da Mayara Gonçalves, que aceitou compartilhar seu trabalho conosco, e ao Thiago Alencar que nos deu seu depoimento sobre sua trajetória sendo portador de TDAH.
Espero ter ajudado aos leitores a esclarecer algumas dúvidas.
Semana que vem tem matéria nova no nosso blog.
Até lá!
Sobre o Autor:
Bacharel em Enfermagem, Servidora Publica Municipal.
profissional com boa dicção, boa aparência, capacidade de tomar iniciativas e apresentar