Bem me quer mau me quer

Hoje vou falar de um assunto que muito tem me assustado, e que infelizmente ainda não é de conhecimento de todos. Já viram a nova febre? Dieta sem glúten! É a mais nova dieta dos artistas e seguidores da moda, mas será mesmo que essas pessoas sabem o que é o glúten, para que serve e o porquê pessoas o retiram da sua dieta? Algumas pessoas não podem comer essa substancia, e precisam mudar totalmente sua alimentação pois são portadoras da Doença Celíaca, vamos ver o que é?

Segundo a ACELBRA (associação de celíacos do Brasil) A doença celíaca se caracteriza pela Intolerância permanente ao glúten, que é a principal proteína presente no Trigo, Aveia, Centeio, Cevada, e no Malte (subproduto da cevada), cereais amplamente utilizados na composição de alimentos, medicamentos, bebidas industrializadas, assim como cosméticos e outros produtos não ingeríveis. Na verdade, o prejudicial e tóxico ao intestino do paciente intolerante ao glúten são "partes do glúten". A Doença Celíaca geralmente se manifesta na infância, entre o primeiro e terceiro ano de vida, podendo entretanto, surgir em qualquer idade, inclusive na adulta. Ainda pouco conhecida, seus sintomas podem se confundir com outros distúrbios e muita das vezes pode ser assintomático.

Na forma clássica se apresenta pela diarreia crônica, desnutrição com déficit do crescimento, anemia ferropriva não curável, emagrecimento, falta de apetite, distensão abdominal (barriga inchada), vômitos, dor abdominal, osteoporose, esterilidade, abortos de repetição, glúteos atrofiados, pernas e braços finos, apatia, desnutrição aguda que podem levar o paciente à morte na falta de diagnóstico e tratamento.

Já na forma não clássica apresenta manifestações monossintomáticas, e as alterações gastrintestinais não chamam tanto a atenção. Pode ser por exemplo, anemia resistente a ferroterapia, irritabilidade, fadiga, baixo ganho de peso e estatura, prisão de ventre, constipação intestinal crônica, manchas e alteração do esmalte dental, esterilidade e osteoporose antes da menopausa.

Para o diagnóstico são realizados exames especializados para avaliar a absorção da D.XILOSE e dosagem de gordura nas fezes, assim como dosagem de anticorpos antigliadina, antiendomíseo, e antitransglutaminase, porém, é absolutamente necessária a realização da biópsia do intestino delgado BID, para estabelecer o diagnóstico da Doença Celíaca, a qual deve ser obtida, preferencialmente, da junção duodeno-jejunal.

O tratamento da doença celíaca se dá exclusivamente pela retirada total do Glúten da dieta, mas isso não significa retirar só os alimentos que contenham a substancia, não se deve também prepara-los, nem deixá-los em contato com alimentos que contenham glúten. Até mesmo cosméticos apresentam em sua composição o triste glúten. Não se pode comer ‘só um pouquinho’ e SIM o tratamento é para toda a vida.

Tá, mas agora vamos associar, porque os famosos e muitos anônimos atualmente retiram o glúten de suas dietas sem nenhuma orientação medica? Segundo a médica Samantha Enande, o gluten também é responsável por desacelerar o metabolismo, já que demora mais para ser processada. É por isso que, sem ela, a tendência é desinchar e reduzir medidas. "A simples subtração do glúten pode render 3 quilos a menos em três meses", publicou para o site MDEMULHER, da Revista Abril.

Esse milagre para alguns pode também ser um problema para os Celíacos. Os portadores da doença celíaca devem manter uma alimentação variada, composta por elementos ou nutrientes que o ajudem a crescer, de forma que a retirada do glúten não atrapalhe o processo de crescimento que se estende até a adolescência.

Para melhor entendermos o dia a dia de um portador da doença, convidei a enfermeira Mari Ruiz, mãe da pequena Isa, que desenvolveu a doença celíaca no seu primeiro ano de vida, para dividir sua experiência, esclarecendo algumas de nossas dúvidas.

“Hoje venho relatar o universo de uma criança celíaca. Digo criança, pois descobri esta condição na minha filha, Isabella, quando a mesma tinha 1 ano e 8 meses (pode revelar em qualquer idade). Foi quando começou a manifestar os primeiros sintomas, vômitos e diarreias constantes, barriga dura e inchada e Irritabilidade. Batia a cabeça no chão pelas dores de cabeça que sentia e não conseguia falar que era isso, até que de repente a minha princesa não andava mais... Suas perninhas ficavam trêmulas e ela, de uma criança ativa, passou a querer só ficar no colo por não ter forças para andar.

Desesperada (essa é a palavra), comecei a procurar médicos que solucionassem este problema. Passei por uns dez que alegavam ser uma virose. Mas coração de mãe nunca falha. Teve uma noite que acabei de dar janta pra ela e então ela só vomitou. Não agüentava mais ver a Isa sofrer. Meu coração doía demais. Minhas preocupações só aumentavam até que a levei na médica que disse: “Sua filha é digna de estudo. Se não segurar nas mãos dela, vai perder”. Saí de lá pior do que entrei, claro. No desespero, na angústia e na preocupação, eu e minha mãe começamos a colocar no site de pesquisas os sintomas que observávamos na Isa como, por exemplo, barriga dura e inchada, vômitos e diarreias constantes... Até que resolvemos ver as imagens e uma criança assemelhou demais com a Isa. Quando cliquei na imagem, li pela primeira vez: DOENÇA CELÍACA. Foi então que procuramos um conceituado médico de Juiz de Fora, cidade que morava, e solicitamos o exame para confirmar. A taxa dela de IGA e IGG deu altíssima, mas para confirmar a doença, somente com a endoscopia com biópsia. E assim foi feito. Depois de uma bateria de exames, a Isa apresentou um cisto bem pequeno no fígado decorrente da doença celíaca e o intestino estava com lesões pequenas que somem com uma dieta isenta do glúten e sem a contaminação cruzada. Como consequência, o cabelo dela também não crescia mais. Ficou ralinho...

Retiramos o glúten e em questão de três dias a minha Isa começou a renascer. Os olhos dela voltaram a brilhar e ela passou a ter vida. Com isso, comecei a participar dos grupos do facebook (Viva sem Glúten, Criança Celíaca, Dia a Dia Sem Glúten dentre outros), que realmente me ensinaram sobre a doença celíaca.

O que significa glúten e a contaminação cruzada? Esta última é a que mais me assusta, pois pode ser silenciosa, lesionando o intestino e até correndo o risco do cisto aumentar, de desenvolver câncer e até a morte. Eu, como mãe da Isa e sendo uma figura de referência pra ela, optei por tirar o glúten também. Não tenho ideia de como será, mas ela precisa do meu apoio. O mundo não cuida dos nossos filhos como nós queremos. Ele é duro, ensina muito, mas não com todo este amor. Ela vai conviver com pessoas que comem glúten, principalmente na escola, em festinhas etc. Mas pelo menos tenho na minha consciência que minha filha não será contaminada por mim e farei o possível e o impossível para nunca se contaminar. Lembrando também que muitos cosméticos têm o tal do glúten. Nunca mais deitei tranquila. Sempre me pergunto como será que está a Isa por dentro?!?! Quando acabava de comer o meu pão, me sentia o glúten em pessoa que ia abraçar a Isa e ela ser contaminada. Porque isso pra ela é um veneno. Quero tirar esse peso de mim e estou muito feliz com minha decisão. Glúten, só como longe dela agora. E falei com a Isa: “A mamãe não vai comer mais glúten, tá?” Ela olhou pra mim e sorriu. Essa foi a resposta que queria. Filha, eu te amo tanto, mas tanto, que por você eu faço tudo!!!!! Agradeço todas as pessoas que me enviam receitas sem glúten e sites de cosméticos sem glúten.

Quero ressaltar também quanto à contaminação cruzada. A contaminação cruzada é denominada como uma contaminação “sem perceber” do glúten. Mas como? Fornos, torradeiras, sanduicheiras, buchas de pia, copos, canudos, batom dentre outros tem que ser EXCLUSIVO da pessoa portadora desta condição celíaca explicando assim, a contaminação cruzada.

Para se ter uma ideia de como pode acontecer esta contaminação, é só imaginarmos um pacotinho de sal (esses de restaurante), e dividi-lo em 1000 (mil) partes. Uma parte destes grãos de sal, já é o suficiente para contaminar uma pessoa. As manifestações variam de uma pessoa para a outra, mas o malefício é o mesmo, acredito.

Por fim, a Isa tem uma vida normal. É uma criança cheia de vida e alegria. Quando ela tem festinhas de aniversário, faço bolo, levo salgadinhos que ela gosta justamente pela inclusão (muito importante). As mães com filhos celíacos não devem abrir mão destes programas em função do glúten e sim adaptar à criança tais condições. Preparar em casa é uma ótima opção já que alimentos sem glúten são muitos caros.

A inclusão social é fundamental, pois nunca saio para comer fora com minha filha. Mas preparo tudo em casa para sairmos juntas e podermos comer fora como qualquer outra pessoa.

Quando você espirra, as gotículas ficam suspensas no ar e depois vão assentando, correto? Com o glúten é a mesma coisa. Se na cozinha do restaurante, o cozinheiro faz uma massa, frita algum empanado, o glúten fica suspenso no ar e pode contaminar o arroz, feijão, carne etc. Por isso não arrisco.

São tantas coisas a serem faladas e relatos importantes que tentei resumir um pouco. Mas se alguém tiver interesse em saber mais, fiquem a vontade para entrarem em contato” e-mail da colaboradora na fonte abaixo.

Não quis expor aqui o Glúten como vilão dentro da alimentação diária, somente mostrar seus dois lados, o lado bom e o lado ruim. Na próxima matéria estarei aqui falando sobre as leis e campanhas, para melhoria do cotidiano de portador da doença Celíaca. Não percam!

Ate la!